segunda-feira, 28 de junho de 2010

Um triste envelhecer

Najaska Martins
Segundo semestre de 2009



Andei observando hoje um velhinho que vejo praticamente todos os dias, mas que nunca fiz nada além de simplesmente vê-lo. Hoje, do nada, alguma coisa fez com que eu o analisasse e me questionasse sobre algumas coisas as quais nem sempre me preocupam ou me importam. Ele é um senhor simples, humilde, bastante conhecido pelo pessoal que o vê todos os dias. Se perguntar a qualquer um das redondezas de onde eu trabalho sobre o tal velhinho e dar suas características físicas, com certeza saberão dizer quem ele é. Pois e foi justamente esse fato que me fez parar hoje. Todo mundo pensa que sabe quem ele é porque sabe uma ou outra coisinha a seu respeito, e já fazem seus próprios conceitos a respeito dele. Até eu mesma poderia falar se fosse indagada que sei sim quem é ele. Eu diria que é aquele senhor que vive de bombacha e casaquinho, com dois ou três relógios em seu pulso esquerdo, contando que ele já foi o maior vendedor de relógios da cidade, e sempre falando do tempo que ora está bonito, ora está frio, ora está chuvoso. E nunca esquecendo, sempre repetindo mil vezes as mesmas palavras no final de frases sem perceber, porque, esse é um probleminha dele, falar várias vezes sem nem sequer se tocar que está repetindo. Me aprofundando, eu poderia citar também que ele sempre mexe com as criancinhas, todo simpático as convidando para ir um dia com a mamãe e o papai lá na casa dele almoçar, almoçar, almoçar. E ainda citando que mora lá pertinho da gruta da Santinha, da Santinha, da Santinha. Pois é, até eu saberia de longe dizer quem é aquele velhinho que gosta de assobiar. Mas hoje, olhei para ele com um certo sentimento de pena. Não sei sobre a vida toda dele, e nem quero saber também, mas sei que ele é sozinho. O que também pode ser percebido pelas suas roupas que quase sempre estão sujas. Percebi também que ele não tem ninguém que o cuide e que sente falta de carinho e atenção, e daí vem todo a sua disposição para puxar papo com qualquer pessoa sem nem sequer conhecer. O que ele quer é atenção, é dizer –ei, eu estou aqui!- porque no fundo me parece que ele sabe que ele está muito velho e não tem ainda muito tempo de vida. Hoje, me questionei sobre o quanto a vida é incerta. Agora posso estar aqui no meu quarto em frente ao meu computador, com meu cachorro dormindo em cima do meu pé, e as minhas irmãs na sala gritando e brigando uma com a outra – um conjunto que significa que eu tenho família, tenho um lar – e amanhã quem sabe se não estarei sozinha, porque não tenho mais ninguém ou porque perdi tudo que tinha por circunstâncias que a vida trouxe. A minha curta análise do velhinho hoje, me fez pensar que ele também já teve família, já teve alguém que o cuidasse e que ele amasse; e que hoje sua vida é vazia e se limita a mais um dia tentando agradar à alguém, ou tentando fazer ele ao menos terminar bem. E todo mundo olha para ele e não vê isso, até porque todo mundo tem suas próprias preocupações e afazeres. Aliás, eu também, justamente por ter de cumprir as minhas obrigações tive que parar de observar o velhinho e pensar na sua vida a qual eu não tenho nada a ver. Mas eu fiquei triste com o que pensei, me deixa mal saber que ele é assim. Ou pelo menos pensar que ele é assim, pois afinal, eu sou só mais uma que o conhece e nada faz. É, mais coisas que eu pensei e resolvi escrever. Quem sabe um dia ele encontre alguém que o cuide, ou que pelo menos dê um pouquinho de atenção às histórias que a vida dele escreveu para seus dias. Mesmo que tenha de ouvir mil vezes as palavras que ele costuma repetir. Torço que o fim da vida dele não seja tão vazio como é agora. E que eu consiga convencer a minha vida a escrever histórias com finais felizes para mim.