segunda-feira, 6 de julho de 2009

Tiro no pé

Por Richard Tagliari


Houve uma revolução industrial na história do jornalismo, com a tipogafria dando lugar aos sistemas computadorizados, o fim da máquina de datilografia e do telex, aposentadoria das revelações de filmes, o jornalismo on-line e uma série de outros procedimentos. Só quem não mudou, em sua essência, foi a notícia, a nossa fonte de trabalho e de inspiração cotidiana.

Absurda essa decisão do STF de aposentar o “canudo” de milhares de estudantes e/ou profissionais que um dia se qualificaram para exercitar essa profissão que tem ajudado o país a construir a sua história e foi responsável, em parte, para reconquistar a democracia nacional, exatamente a partir da divulgação da luta pós-golpe de 1964, até a promulgação da Constituição Cidadã.

Nunca a liberdade de imprensa e o direito à livre manifestação do pensamento foram contrariados por jornalistas. A Rede Globo que tem Arnaldo Jabor, um produtor de cinema, como um dos seus melhores e mais mordazes comentaristas políticos; e Tostão, que é médico, comentarista esportivo na imprensa escrita, entre dezenas, centenas de outros. Outro exemplo é Dr. Drauzio Varela fazendo matérias sobre medicina com inigualável competência. No Brasil, há uma liberdade de expressão plena, pelo menos a partir de 1988, e o patrulhamento a essa conduta não se situa na categoria, mas, em alguns segmentos empresariais e governamentais que desejam estatizar e monopolizar a informação ao seu modo.

A tecnologia criou novas possibilidades para os “não” jornalistas e isso é real, visível, com centenas de blogs e sites no mundo inteiro sendo operados pelos mais diferentes profissionais, inclusive cozinheiros, mas, nada substitui a formação do jornalista em sua essência. Há de se dizer que o “jornalismo romântico” morreu; mas isso também é verdadeiro com a medicina, a advocacia e outras profissões. Aquele “médico da família” já desapareceu do cenário há anos, assim como o engenheiro que só fazia casas, o advogado dos comerciários e assim por diante.

Agora, o STF, anuncia a contratação de 14 jornalistas por concurso com salário inicial de R$6.651,52 e vive o drama, em edital, se exige diploma de jornalista ou se abre para todos: motoristas de táxis, cozinheiros, médicos, terapeutas ocupacionais, mágicos, garçons e outros. E tome tiro no pé.

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